A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou a Polícia Federal nesta quarta-feira (18) para investigar uma falsa notícia publicada em redes sociais sobre o próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. De acordo com a AGU, a fake news prejudicou ações do governo para conter o preço do dólar, em disparada nos últimos dias.
O material falso atribuía a Galípolo a seguinte fala: "A moeda dos Brics nos salvaguardaria da extrema influencia que o dólar exerce no nosso mercado". Dizia também que Galípolo chamou o dólar de "moeda estadunidense" e que previa uma cotação a R$ 5. Nesta quarta, o dólar passou de R$ 6,20, um recorde histórico.
"A desinformação, ao interferir diretamente na percepção do mercado, comprometeu a eficácia da política pública federal de estabilização cambial, evidenciando o elevado potencial lesivo de boatos neste contexto", escreveu a AGU em nota.
A AGU pediu também para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investigar as postagens com informações falsas.
“Sabe-se que há relação direta entre a cotação de moeda estrangeira, notadamente o dólar, e os preços dos valores mobiliários negociados em bolsas de valores, tanto que a recente elevação do valor da moeda americana veio acompanhada de queda do montante de valores negociados no mercado de capitais”, escreveu a AGU para a PF.
Disparada do dólar e reação do governo
O dólar fechou em forte alta nesta quarta-feira (18) e bateu mais um valor recorde de cotação: R$ 6,2672. Com alta de 2,82%, é a maior alta percentual desde 10 novembro de 2022 (4,10%).
A moeda brasileira segue derretendo conforme pioraram as expectativas do mercado financeiro com o desenho do pacote de cortes de gastos enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional.
Na noite desta terça-feira, as primeiras medidas começaram a ser aprovadas pelos parlamentares: a Câmara dos Deputados aprovou o texto que proíbe a ampliação de benefícios tributários quando as contas públicas tiverem um desempenho negativo.
Além disso, quando o governo registrar déficit primário (situação em que as despesas são maiores que o dinheiro arrecadado), a proposta aprovada ativa um "gatilho" que limita o aumento de gastos do governo com pessoal.
Há expectativa de que a Câmara vote nesta quarta outros pontos centrais do pacote de corte de gastos, como mudanças na regra do salário-mínimo e abonos salariais. Depois, as propostas seguem para o Senado.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico consolidaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
Para tentar frear a disparada do dólar, o Banco Central fez uma ampla intervenção nesta terça com leilões de moeda no mercado de câmbio, mas não surtiu feito. O objetivo dos leilões é aumentar a oferta de dólares disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair.