Em momentos de tragédia e desespero, a combinação entre instinto canino e expertise humana revela-se uma ferramenta poderosa para salvar vidas. Por meio da Seção de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (SBRESC), o Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBMSE) amplia o alcance das operações de busca e salvamento, dentro e fora do estado, além de fortalecer projetos sociais e auxiliar na recuperação de pacientes.
Com capacidade olfativa 50 vezes maior que a humana, os cães farejadores são insubstituíveis em operações de busca, localizando vítimas em minutos em áreas onde humanos levariam horas. Criada em 2008, a seção, por meio dos cães do CBMSE, já participou de operações marcantes, como o desastre de Brumadinho (MG), deslizamentos em Pernambuco, no Rio de Janeiro e as enchentes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, reforçando a importância estratégica da atividade.
Segundo a chefe do SBRESC, a tenente Mirian Oliveira da Silva, ressaltou que o serviço surgiu a partir da necessidade da aplicação de cães para acelerar as buscas de desaparecidos em desastres e conseguir resgatar as vítimas ainda com vida. “O Canil tem um papel fundamental na corporação. Ele foi criado para localizar vítimas desaparecidas ou soterradas em situações de desastre. Além disso, expandimos nossa atuação para projetos sociais, como a cinoterapia [terapia que utiliza cães treinados para auxiliar no tratamento de doenças ou sofrimento psíquico]. Levamos nossos cães a hospitais, escolas e instituições como a Apae, proporcionando momentos de alívio tanto para pacientes quanto para profissionais,” destacou.
Heróis de quatro patas
Atualmente, o canil do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (CBMSE) é composto por nove cães altamente treinados, cada um com habilidades específicas para rastrear vítimas vivas ou localizar corpos em situações de soterramento, deslizamentos e desaparecimentos.
“A cada treinamento, vemos a dedicação dos militares e a evolução dos cães. Eles são mais do que ferramentas operacionais, são nossos parceiros. Temos cães em diferentes níveis. Filhotes que estão em treinamento, cães na faixa intermediária de treinamento e cães em treinamento mais avançado, levados para as operações. Quando um cão se aposenta, há uma ligação emocional muito forte com o militar responsável por ele, tanto que muitas vezes opta por adotá-lo,” revelou a tenente.
Ela explicou que, conforme a portaria que rege o serviço, esses animais podem ser comprados pelas instituições ou doados. “Hoje, a maioria dos nossos cães foi doada, temos cães da raça labrador e bracos alemães. Eles têm treinamento de adestramento e treinamentos voltados para buscas, que efetivamente são os empregados nas atividades operacionais.
Treinamento
Isso tudo procura deixar os animais prontos e preparados para atuarem tanto em âmbito estadual quanto no cenário de desastres em nível nacional. O treinamento de um cão leva cerca de dois anos e é conduzido por militares especializados que, por sua vez, recebem capacitação em instituições nacionais e internacionais, conforme explicou o subchefe da SBRESC, sargento Garcia, com 15 anos de experiência no serviço.
“A princípio, quaisquer cães estão aptos para a função desde que não sejam braquicefálicos [animais que possuem a cabeça achatada e o focinho curto, a exemplo de Pug, Buldogue francês, Shih tzu, Buldogue inglês, Pequinês, Lhasa apso, Boston terrier, Dogue de bordeaux, Boxer, Maltês]. Historicamente, as raças que usamos são labradores, conhecidos como animais dóceis. Estamos inserindo outras raças também, como o braco, que pela questão física se destaca em relação ao labrador”, declarou.
Casos marcantes
Regastes marcantes e emocionantes fazem parte da rotina de quem lida diariamente com esse tipo de trabalho. O sargento Garcia recordou um salvamento em especial, realizado em 2014 no bairro Coroa do Meio em Aracaju, onde o trabalho dos cães foi crucial para salvar vidas.
“Apesar de a mais famosa ser em Brumadinho, cinco anos antes, em 2014, caiu um prédio em construção no Bairro Coroa do Meio, em Aracaju. O desastre envolveu uma família, com o pai, a mãe e duas crianças que ficaram embaixo dos escombros, e foram os cães que deram a indicação do local exato, salvando a vida de três familiares. Em um resgate, o tempo resposta é vida. Um cão treinado pode localizar uma vítima em poucos minutos, enquanto sem ele levaríamos horas, colocando vidas em risco”, reforçou.
O militar descreveu a satisfação de trabalhar com cães como única e de constante aprendizado. “Trabalhar com esses cães é uma experiência única. Criamos um vínculo muito forte. Cada militar tem seu cão designado e é responsável por todo o treinamento e cuidados. Isso exige comprometimento, até fora do horário de serviço. Por mais cansativo que seja, a recompensa está em cada vida salva ou na alegria proporcionada nas ações sociais”, declarou.
Essa proximidade vai além do serviço, o militar destaca o impacto emocional de trabalhar com os cães, que exige dedicação 24 horas por dia, mesmo fora do expediente. “É um vínculo que ultrapassa o profissional. Os cães percebem nossas emoções, leem nossos gestos, e isso reforça a parceria durante as operações. Os cães percebem nossas emoções e leem nossos gestos. Essa conexão reforça a parceria durante as operações. Mesmo sendo exaustivo, salvar vidas e transformar histórias supera qualquer dificuldade”, disse o sargento.
Além das operações de resgate
O trabalho do canil vai além de operações de resgates. Também inclui iniciativas como a cinoterapia, que leva conforto e alegria a hospitais, escolas e instituições de apoio. Exemplo de coragem, técnica e empatia, inspiração para corporações em todo o Brasil, o trabalho desempenhado pela SBRESC é a prova de que quando humanos e cães trabalham juntos, o impossível torna-se possível.
“Quando levamos os cães a um hospital, os beneficiados não são apenas os pacientes, mas também os profissionais de saúde. A presença do animal transforma o ambiente, traz leveza e alivia o estresse e a ansiedade”, finalizou Mirian.